quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A nova dimensão da Responsabilidade Social.

Por Cynthia Ribeiro


A propriedade em falar sobre o tema não é à-toa. Ele é um dos coordenadores do projeto Estação Ambiental, que desenvolve ações de conscientização socioambiental em comunidades da região metropolitana do Rio de Janeiro. A iniciativa, iniciada em 2003, busca em parceria com a comunidade local, trabalhar a mudança de comportamento de ex-caçadores, mateiros e antigos trabalhadores rurais, com vistas a incluí-los no processo de preservação da região. Na entrevista, Bacellar também destaca os principais resultados dessa atividade, fala sobre as ações em curso e metas para o futuro. Acompanhe:


1) Responsabilidade Social – A Associação Brasileira de Perícia e Gestão Ambiental (ABPGA) realiza o Estação Ambiental, um projeto que desenvolve ações de conscientização socioambiental com as comunidades da região metropolitana do Rio de Janeiro. Como é pautado o projeto e quais as principais atividades em curso?

Sergio Bacellar – O foco do projeto Estação Ambiental proposto a partir de 2003 foi definido inicialmente para a cidade de Niterói, devido à presença dos remanescentes dos posseiros das fazendas que existiram na região (Bairros do Engenho do Mato, Várzea das Moças e adjacências) e do Parque estadual da Serra da Tiririca, demarcado em 2005, que faz a divisa de Niterói como município de Maricá. Procuramos inicialmente trabalhar a mudança de paradigma, que ocorreria a partir da chegada da área urbana e do chamado progresso, uma vez que eram perceptíveis as diferenças culturais, educacionais e do modo de vida local, que foi afetado diretamente pelas mudanças ocasionadas pela troca da nomenclatura local pela prefeitura, acabando com as áreas rurais do município, sem que nenhuma alternativa tenha sido proposta para a população local. Com o apoio da comunidade, buscamos trabalhar a mudança de comportamento de ex-caçadores, mateiros e antigos trabalhadores rurais, no sentido de darem sua contribuição para a preservação da região e da reserva florestal em particular, buscando gerar oportunidades de inclusão dos mesmos no processo. No momento, estamos em fase de implantação do pólo turístico Charles Darwin, em parceria com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a administração do parque e do Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ). As instituições estão finalizando o treinamento da equipe de voluntários, que irá capacitar os moradores que participam do projeto. Também estamos buscando parceiros que possam subsidiar os cursos de ecobijouterias, de condutores em ecoturismo e de agentes ambientais.
Temos levados diversos grupos para fazer a trilha por onde Darwin passou e que leva à fazenda onde pernoitou em abril de 1832. Entre os grupos parceiros estão a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Faculdade Maria Teresa, Faculdades Plínio Leite, representantes de instituições ligadas à Casa da Ciência (MCT/UFRJ), que participaram da Semana Intermunicipal do Caminho de Darwin e turistas nacionais e estrangeiros, que tem buscado conhecer o caminho seguido pelo naturalista.

2) RS – O projeto já é desenvolvido há seis anos. Quais resultados que podem ser apresentados?

SG – Podemos citar a conscientização da comunidade que apóia e incentiva o projeto. Também podemos destacar a aprovação de lei municipal (2699/2010), que cria o pólo turístico no município de Niterói, com sinalização do Caminho de Darwin. Podemos citar, ainda, o treinamento realizado em parceria com o DRM-RJ, Inea e a Fundação Municipal de Educação; a participação em programa do governo federal nas comemorações do bicentenário de Charles Darwin; e a negociação com a Prefeitura de Maricá, propondo a expansão do pólo para o referido município, protegendo os dois lados da reserva e ampliando a inclusão da população local do entorno do caminho.

3) RS – Quais as metas para os próximos anos?

SB – A meta é consolidar o projeto e o pólo, buscando sua internacionalização por meio de parcerias e patrocínios e implantação do pólo no município de Maricá. Também pretendemos oferecer cursos certificados pela ABPGA, tendo na reserva sua sala de aula para a carga horária de campo, propiciando a estudantes universitários e professores a oportunidade de incorporar o tema ambiental na sua práxis pedagógica.Também almejamos levar o projeto a outros municípios interessados ao longo do Caminho de Darwin, visto que o mesmo perpassa 12 municípios do Estado do Rio de Janeiro.

4) RS – Na sua avaliação, hoje há no país um novo panorama político para as questões socioambientais? O que esperar dos próximos quatro anos?

SB – A entrada do tema ambiental na pauta oficial foi um avanço, porém devo dizer que essa atitude se deu mais pela necessidade do que pela consciência de que é necessário realizar mudanças reais nos hábitos e na visão de mundo em geral. Um exemplo disso são as empresas que incluíram em seu discurso toda a aparência necessária a uma empresa ecológica, mas que não se comprometem em implantar mudanças reais, a não ser por força de lei, fazendo das contrapartidas previstas em lei, moedas de troca com as prefeituras, que em sua maioria ainda não definiram como atuar de forma condizente para cumprir de forma eficiente lei de crimes/impactos ambientais. Creio que com a presença na mídia, o tema ambiental ainda renderá melhorias frente às questões que teremos de enfrentar, exigindo da sociedade, governantes e empresas atitudes mais responsáveis e perenes para consolidarmos os pseudo-s avanços que tão folcloricamente alardeamos.

5) RS – Para o senhor, a sustentabilidade é uma bandeira política eficaz?

SB - Estive recentemente em um congresso internacional de sustentabilidade ocorrido em maio deste ano no Rio de Janeiro e acredite, a maioria dos palestrantes não soube definir o que era sustentabilidade. Não creio que como bandeira política ela possa ser mantida durante muito tempo, pois mesmo com todo o cuidado necessário a continuidade das explorações de matérias-primas e recursos naturais, seremos obrigados em algum momento a admitir que atingir um ponto de equilíbrio é tão difícil quanto reduzir os níveis de emissão e do consumo.

6) RS - De modo geral, o senhor acredita que a existência das leis ambientais, aliada a uma necessidade mundial de se desenvolver com sustentabilidade, tem melhorado a atitude das empresas em relação aos crimes ambientais?

SB – Sim, mas como falei anteriormente muitos desses avanços estão se dando por imposição do mercado consumidor, da exposição na mídia e até da cobrança das autoridades. Mas nosso aparato de fiscalização é insuficiente para atender a crescente demanda que o tema cria a partir de então. Não podemos esquecer que a aplicação da lei ainda é pífia, ficando sua aplicação mais rigorosa para os casos emblemáticos que a mídia elenca para acompanhar e divulgar. Em boa parte das vezes, a punição é preventiva e acaba virando uma forma de se autorizar o que é indevido sob a alegação das compensações ambientais.

7) RS - Qual a sua avaliação do movimento ambientalista hoje?

SB – Os movimentos cresceram e evoluíram muito se compararmos há alguns anos quando ainda não era moda ser ecológico. A meu ver, o maior desafio será a inclusão das mudanças propostas pela pauta ambiental no dia-a-dia das cidades, nos hábitos da população e no paradigma governamental na tentativa de passar a fazer parte de políticas e programas de governo de forma efetiva. Passamos da fase dos protestos e ações pirotécnicas para chamar a atenção.

8) RS - Para o senhor, o desenvolvimento econômico pode conviver harmoniosamente com o meio ambiente e boas práticas sociais?

SB – Sim, desde que levemos a sério a aplicação das leis e dos mecanismos de controle, prevenção e inclusão da população no processo.

9) RS - Qual o principal desafio do desenvolvimento sustentável hoje no Brasil e quais os principais fatores que dificultam a recuperação de áreas verdes no país?

SB – O maior desafio será compatibilizar o crescimento das cidades com a manutenção de áreas rurais e de preservação. O crescimento urbano e a expansão imobiliária, com base na lei de propriedade, encontram sempre uma forma de justificar o uso de áreas protegidas sob a alegação do direito constitucional de construção e moradia.

10) RS - O que é, na sua opinião, responsabilidade social, econômica e ambiental?

SB – Podemos entender por responsabilidade toda e qualquer atitude que coloque em linha a preocupação com a preservação e a busca de soluções concretas, que não tenham foco apenas no lucro, no ganho de mercado e no crescimento indiscriminado das cidades sob a alegação do inevitável crescimento e desenvolvimento da economia e da sociedade.

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